Jornal da Ciência 5878, 16/04/2018
Artigo de Hernandes F Carvalho, professor titular da Unicamp e presidente da Federação das Sociedades Brasileiras de Biologia Experimental (FeSBE) para o Jornal da Ciência
“Aqui passa o Trópico de Capricórnio”. Entre São Paulo e Campinas encontram-se esses dizeres. Apenas os mais atentos que dirigem por ali podem ter visto. Assim marcamos nossa posição, com respeito às linhas imaginárias que dividem o planeta. Ao contrário, a Inglaterra dá um show diário, dividindo o mundo em Oriente e Ocidente com um feixe de laser verde, a partir do Observatório de Greenwich.
Esta simples comparação revela que a importância dada a fatos e eventos, depende da intelectualidade. A própria tecnologia deseduca, ao garantir acesso à informação e à comunicação sem princípios, propagando o ódio e as falsas notícias.
Onde ficam o conhecimento e a ciência neste novo “Mundo Novo”?
Países ricos investem maciçamente em pesquisa. Em muitos deles, a riqueza surgiu da exploração das riquezas naturais, das colônias ou dos trabalhadores. Com a revolução industrial identificou-se que a tecnologia oriunda da ciência favorecia o processo de acumular riqueza, ao mesmo tempo que diminuía a demanda pela força de trabalho
humana ou animal.
O dispêndio com ciência é variável nas diferentes nações do mundo e condicionado a alguns fatores. Entretanto, a verdade é única: fazer ciência custa!
A falta de territórios extensos ou de recursos naturais estimula a priorização da ciência e da tecnologia. A abundância dos dois, por outro lado, tem efeito contrário. Outro fator relevante é a mão de obra. A sua escassez aumenta a necessidade de tecnologias que aumentem a produção e substituam a mão de obra.
Por lei, o estado de São Paulo investe 1% do ICMS na Fapesp. Não há dúvida de que esta agência de fomento faz a diferença, elevando São Paulo acima dos outros estados em termos de quantidade e qualidade da produção cientifica. O estado tem atividade cientifica mais expressiva que muitas nações da América Latina. Entretanto, a comparação não é justa. São Paulo deveria comparar-se a países com mesma população e/ou produção industrial e/ou Produto Interno Bruto (PIB).
Num quesito simples, meça-se o investimento atual. Confunde-se, às vezes, o ICMS com o total de impostos coletados. É verdade que o ICMS corresponde a quase 80% dos impostos, mas não corresponde ao total da arrecadação. Comparado a países onde a referência é o PIB, um centésimo do PIB paulista implicaria que o investimento em ciência em todo o estado deveria ser 13,5 vezes maior.
Faz sentido querer mais investimento? Um centésimo do ICMS não é suficiente?
Depende do ponto de vista. Na minha opinião, seria extremamente apropriado.
Sei que os tecnocratas dirão que este investimento é muito maior, que farão referência aos salários, em particular nas universidades que fazem pesquisa. Em contraponto, afirmo que as condições de infraestrutura não são igualmente apropriadas e precisam ser aprimoradas em grande parte das universidades e dos institutos de pesquisa. A grande maioria encontra-se sucateada, sem condições de segurança ou carente de mão de obra e de manutenção de equipamentos.
São Paulo deveria aumentar seu investimento em ciência e tecnologia. Se um centésimo do PIB (13,5 vezes maior que o ICMS) é horizonte distante, deveríamos dobrar o investimento no custeio da pesquisa, melhorando as condições gerais de pesquisa no estado.
Neste momento de crise ou de recuperação de uma crise tão aguda, quando a economia acena positivamente, São Paulo, através de seus governantes e políticos deveria marcar sua posição no planeta.
O artigo expressa exclusivamente a opinião do autor