Para a Diretoria da LATAM,

A comunidade científica brasileira recebe com surpresa e extrema preocupação a notícia de que a empresa aérea LATAM fará restrições ao transporte de animais destinados à pesquisa científica.

Além da produção de vacinas, animais de laboratório são utilizados para geração de conhecimento e produção de tecnologias que beneficiam a todos, inclusive os diretores da LATAM. Próteses ortopédicas e cardíacas, utilização de células-tronco na recuperação de lesões, compreensão dos mecanismos de centenas de doenças, produção de soros e desenvolvimento de novos medicamentos e de técnicas de medicina reprodutiva, terapias para o câncer e outras doenças debilitantes, além de tantas outras áreas da medicina humana e veterinária dependem de animais.

No sentido se contribuir para maior reflexão, destacamos ainda episódios recentes quando o Brasil se tornou o centro mundial da epidemia do vírus Zika, que afeta a vida de milhares de crianças. A comunidade científica tem trabalhado intensamente para entender os mecanismos desta doença e, principalmente, na produção de uma vacina que impeça sua propagação. Entre tantas incertezas, há uma grande certeza: não é possível a produção de uma vacina para o vírus Zika sem a utilização de animais em seu desenvolvimento e em seus testes de eficácia e controle. Neste exato momento, diversos grupos de pesquisa que trabalham nesta área estão em comunicação e animais e/ou amostras de vacinas estão sendo enviadas de um laboratório a outro para o intercâmbio de informação e conhecimento, fundamental para o desenvolvimento da ciência. Possivelmente, esta decisão da LATAM não levou em consideração a posição em contrário no desenvolvimento desta vacina.

É importante mencionar que a promoção do bem-estar dos animais utilizados em pesquisa científica influencia positivamente a qualidade dos resultados. Desta forma, qualquer tipo de maus tratos é inadmissível do ponto de vista científico e ético.

Animais são utilizados por um único e fundamental motivo: necessidade. Tanto para a medicina humana como veterinária há a necessidade de gerar conhecimento e desenvolver tecnologias para promoção da saúde.

Quando se analisa a necessidade da utilização e, consequentemente, do transporte de animais para ciência, deve-se questionar o porquê da LATAM não ter restrição semelhante aplicada a animais de circo, de zoológico, de rodeio e até mesmo algumas raças de cães e gatos criados e comercializados unicamente para satisfazer um prazer humano, quando milhares de animais dessa espécie estão abandonados e necessitam de um lar. Animais na ciência tem seu uso totalmente diferenciado dos citados anteriormente, pois são pautados na necessidade. Uma vez não havendo mais esta necessidade, os cientistas serão os primeiros a deixar de usá-los.

Desta forma, para que a LATAM não fique numa posição de obstáculo ao desenvolvimento científico brasileiro, solicitamos que essa decisão seja reavaliada. Neste sentido, a Federação das Sociedades de Biologia Experimental com suas 13 sociedades científicas se coloca à disposição da direção da LATAM para uma apresentação e discussão sobre os impactos negativos desta decisão.

No aguado de um retorno.

Atenciosamente,

Diretoria da FeSBE