Cientistas estudam possível ação da vitamina C na terapia de depressão

Ácido ascórbico, como é chamada, também atua como neuromodulador.

Em bichos, combinação com antidepressivos potencializou tratamento.

Mariana Lenharo

Do G1, em Foz do Iguaçu

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Uma molécula simples e muito bem conhecida pela população é vista como esperança de evolução no tratamento de transtornos depressivos. O uso do ácido ascórbico, mais conhecido como vitamina C, em modelos de depressão em animais tem sido estudado há quase 10 anos por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Experimentos do grupo já demonstraram que o uso de ácido ascórbico em associação a três antidepressivos disponíveis – fluoxetina, imipramina e bupropiona – potencializou o efeito dos medicamentos em camundongos com sintomas de depressão. E mesmo a administração desses antidepressivos em doses menores do que seriam efetivas conseguiu reduzir os sintomas dos animais quando em associação com o ácido ascórbico.

“Os antidepressivos têm muitos efeitos adversos, que são inclusive motivo de abandono do tratamento. Se conseguirmos baixar essa dose ao associá-los com um agente sem efeitos colaterais, teria talvez uma estratégia terapêutica muito promissora no tratamento da depressão”, diz a pesquisadora Ana Lúcia Severo Rodrigues, que apresentou os resultados que seu grupo tem obtido nos últimos anos na 31ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), nesta quarta-feira (31), em Foz do Iguaçu.

O ácido ascórbico é conhecido como uma vitamina hidrossolúvel necessária na alimentação, mas é uma substância que também modula a função do sistema nervoso.

Neuromodulador

Mas não é seu papel de vitamina o responsável pelos efeitos observados em animais, segundo Ana Lúcia. “O ácido ascórbico é conhecido pelo público como uma vitamina hidrossolúvel necessária na alimentação. Mas é uma substância que também modula a função do sistema nervoso”, explica.

Os efeitos positivos do ácido ascórbico foram observados em camundongos nos quais os sintomas depressivos foram induzidos por meio da administração do fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), substância que tem ação inflamatória. O grupo de Ana Lúcia estuda o papel do TNF-alfa na depressão de caráter inflamatório, tipo de depressão apresentada por parte dos pacientes.

“O TNF-alfa seria um dos componentes envolvidos na resposta inflamatória que pode estar promovendo comportamento depressivo”, diz a pesquisadora. Ela acrescenta que estudos mostram que, quanto maior o nível de marcadores que indicam inflamação em pacientes com depressão, menor sua resposta aos remédios disponíveis.

O ácido ascórbico, por sua vez, atua em um sistema de neurotransmissores que pode estar envolvido com o mecanismo inflamatório desse tipo de depressão, por isso passou a ser estudado pelo grupo, que avalia se essa molécula pode ter como alvo o TNF-alfa.

Ana Lúcia lembra que, apesar de os resultados em animais serem promissores, ainda não são suficientes para recomendar o uso da estratégia a pacientes. Ainda são necessários testes clínicos, em humanos.

“A aprovação de testes clínicos neste caso pode ser mais simples, menos burocrática, pelo fato de ser um composto isento de efeitos colaterais, que já é utilizado para muitos outros fins. Mas quanto à indústria farmacêutica, é mais complicado, pois ela tem interesse de desenvolver novas moléculas e este é um composto acessível, barato”, diz a pesquisadora, acrescentando que por esse motivo não há apelo comercial para as pesquisas com ácido ascórbico.