A XXXIII Reunião anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) começou neste domingo, dia 02 de setembro, em Campos do Jordão, São Paulo, onde mais de mil pesquisadores participavam da cerimônia de abertura, que ocorria exatamente enquanto o Museu Nacional no Rio de Janeiro ardia em fogo e uma importante parte do patrimônio histórico e científico deste país simplesmente derreteu em algumas horas.
Não é coincidência que a conferência de abertura fosse proferida pelo pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Marcos Morales, um dos Diretores do CNPq e presidente substituto da instituição, que abordou a crise da ciência nacional, incluindo a falta de investimentos e as perspectivas.
Apesar de se considerar um otimista e não perder as esperanças, Morales comparou os investimentos em ciência e tecnologia em diferentes nações. Enquanto a China investe U$ 265 bilhões em ciência e tecnologia, o Brasil atualmente destina à área apenas U$ 1 bilhão.
“Publicamos 2,7% da pesquisa mundial, mas investimos cerca de 1% do PIB. Israel investe quase 5% e Coréia do Sul 4%; China e Estados Unidos, 3% do PIB cada um. E quando ameaçam as agências, incluindo aí também Capes e Finep, temos que defendê-las.”
Para descrever melhor a crise, Morales resgata os valores investidos. Em 2013/2014, foram R$ 3,5 bilhões na área da ciência. Em 2017, tivemos uma queda brusca e chegamos a R$ 1,2 bilhões. A perspectiva para 2019, se nada mudar, será de R$ 800 milhões. “A PEC do Teto está colocando a ciência em uma camisa de força.”
Morales lembra que a ciência e inovação são importantes mecanismos para superação da pobreza e das desigualdades – eixos estruturantes de uma nação.
Por outro lado, ele ressalta que o número de grupos de pesquisa aumentou significativaente. De acordo com dados apresentados, o Brasil é responsável por 50% da produção científica da América Latina. No país, são formados mais de 20 mil doutores a cada ano; a Plataforma Lattes possui mais de quatro milhões de currículos; em 10 anos subimos da posição 24ano ranking de produção acadêmica no mundo para a 14a. “Somos uma potência em ciência e tecnologia, mas ainda existem falsas críticas e preciso combatê-las. Somos reconhecidos mundialmente com as pesquisas realizadas, por exemplo, no Cenpes, na Embraer e na Embrapa, mas insistem em dizer que não investimos em patentes. Cerca de 20% das patentes nacionais são desenvolvidas em universidades públicas.”
Mesmo diante de um cenário ruim, Morales mencionou alguns dos projetos e em andamento e dos editais abertos no CNPq. Entre os quais, o Doutorado Acadêmico Industrial e o Doutorado de Inovação; os projetos Inova Talentos, inova Global e Inova Tecnologia; o Projeto de Ecologia de Longa Duração; Chamada Zika, além vários outros.
E por fim, conclamou as instituições como SBPC, FeSBE e outras sociedades para que se unam em defesa da ciência junto ao Congresso Nacional e aos outros ministérios, pois se nada for feito para reverter as perspectivas orçamentárias de 2019, ficaremos engessados e a situação sera bem complicada, inclusive afetando o pagamento de bolsas. Para sermos sustentáveis, precisamos investir 2% do PIB na ciência até 2020.
Ao fim da cerimônia de abertura, o Presidente da FeSBE, Hernandes Carvalho falou que será produzida durante esta reunião uma carta a todos os candidatos a presidente do Brasil com os anseios da comunidade científica. Hernandes também anunciou dois prêmios que serão concendidos pela FeSBE: o Science Service Award que, neste ano, agraciará a ex-Presidente da SBPC, Helena Nader; e o FeSBE Award Best Publication 2017, no valor de R$15 mil, que irá para a professora Lirlandia P. de Souza, da Universidade Federal de Minas Gerais.