Sociedade Brasileira de Virologia divulga carta reafirmando a importância do distanciamento social para minimizar a mortalidade do covid19.

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28 de março de 2020

Com base em Evidências Científicas Virologistas
Recomendam o Distanciamento Social

O colegiado dos Ex-Presidentes e a atual Diretoria da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), entidade que congrega virologistas do país e de alguns países da América Latina, vem a público reiterar a importância do distanciamento social nesse momento com o intuito de retardar a disseminação da epidemia de coronavírus no Brasil.
Com base nas recomendações dos especialistas em todas as áreas de Saúde Pública, da Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), nós da SBV enfatizamos que este procedimento é essencial para mitigar a transmissão do vírus e permitir a redução do número de casos de SARS-CoV-2 (COVID19). O distanciamento social não só tem o objetivo de proteger os cidadãos brasileiros, mas principalmente, evitar a sobrecarga dos sistemas de saúde público (Sistema Único de Saúde – SUS) e privado. Somos todos trabalhadores e cidadãos, sensíveis às dificuldades econômicas que serão ainda mais sentidas na parcela menos favorecida da população brasileira. A exemplo de outros países, é um dever do Estado e de economistas determinar as ações para minimizar estas consequências. Nós virologistas temos por princípio, além do desenvolvimento científico, salvar vidas, o que acreditamos ser neste momento a prioridade.
Sabemos pelo histórico de outras epidemias que, subestimar a magnitude da sua extensão, por achados iniciais, é catastrófico. Não esqueçamos que no início da pandemia de HIV-1 muitos acreditaram que a doença só atingiria os homossexuais masculinos, e que a microcefalia induzida pelo vírus Zika não havia sido adequadamente relatada até sua disseminação nas Américas. Na atual epidemia é bom lembrar que o relaxamento de medidas de contenção certamente contribuiu para a disseminação do vírus e do maior impacto da letalidade em locais específicos da Itália
e hoje nos USA. O Reino Unido também tentou a via de não utilizar o distanciamento social e logo precisou voltar atrás nesta decisão. As estimativas de estudos internacionais apontam perspectivas sombrias para nosso país, com a possibilidade de aproximadamente 44.000 óbitos, mesmo adotando um distanciamento social (mais abrangente). Por outro lado, o isolamento parcial, não recomendado por especialistas em Saúde Pública, OPAS e OMS, poderia atingir mais de meio milhão de mortes, relacionadas à COVID-19. A perspectiva pode ser ainda pior, visto que na Itália, por exemplo, já foram reportados 18.000 casos de jovens apresentando quadros graves de COVID-19, contrariando a ideia corrente de que apenas idosos são vítimas do vírus, o mesmo ocorrendo em outros países. Nenhuma morte é justificável se pudermos evitar por meio de uma medida simples. O distanciamento social já se mostrou eficaz em outras epidemias nas quais nem mesmo contávamos com as tecnologias de diagnóstico e a robustez de ferramentas científicas disponíveis atualmente. Tais tecnologias de monitoramento da circulação do
vírus e da resposta imune dos indivíduos pode, inclusive, ser a chave para o retorno da população economicamente ativa às atividades laborais, de forma segura e sem o risco de novas ondas epidêmicas. O distanciamento social é um ato baseado na história pregressa e atual das epidemias virais, com evidências científicas comprovadas e favorece, principalmente, um tratamento digno das pessoas que necessitam de um leito hospitalar.
O isolamento horizontal é a chance de reduzirmos a ocorrência de vários casos graves da COVID-19, cujo comprometimento também se estenderá a população mais jovem e mais produtiva.
Finalmente, nos colocamos à disposição do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações para qualquer colaboração que seja da nossa competência.

Ex-Presidentes
Bergmann Morais Ribeiro, UnB
Clarice Weis Arns, Unicamp
Edison Luiz Durigon, USP
Edson Elias da Silva, Fiocruz
Erna Geessien Kroon, UFMG
Eurico de Arruda Neto, USP-RP
Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, USPRP
José Paulo Gagliardi Leite, Fiocruz
Maurício Lacerda Nogueira, FAMERP
Paulo César Peregrino, UFMG
Paulo Michel Roehe, UFRGS
Ricardo Ishak, UFPA

Diretoria Atual
Fernando Rosado Spilki, FEEVALE
Flávio Guimarães da Fonseca, UFMG
João Pessoa Araújo Júnior, UNESP
Fabrício Souza Campos, UFT
Jônatas Santos Abrahão, UFMG
Luciana Barros de Arruda, UFRJ